quarta-feira, 30 de março de 2016

A Saga



Encontrar um filme legendado na França sim, é uma batalha épica. Para os odiadores de filmes dublados nos cinemas brasileiros, que reclamam do número reduzido de sessões legendadas, às vezes em horários ruins (muito tarde, normalmente): vocês estão no paraíso. 

Aqui simplesmente não existem exibições de filmes legendados nos cinemas. Coisa que eu já suspeitava, mas não acreditei que as opções seriam tão próximas de zero. 

É que na TV daqui, seriados norte-americanos famosos são dublados. Sim... Friends, Buffy, CSI (Esse tem até título em francês: Les experts), Bones, Gossip Girls, todos com áudio em francês. 

Tentei pesquisar o motivo, mas não encontrei justificativa. Parece que o gosto pelos filmes dublados é bem comum em vários países da Europa. Descobri que na Espanha, os dublados eram até lei, imposta pelo ditador Franco, com a justificativa de preservar o idioma. A lei nem vale mais por lá, mas o costume ficou.

E se eu já não gostava das dublagens em português, porque tiram muito da interpretação dos artistas, imagina com a dublagem em francês? Em que todas as energias se concentram em traduzir o que está sendo dito!!!

O sofrimento foi ficando maior com a previsão se estreia, na última semana, do filme Batman X Superman. Não, eu não sofri tanto assim, mas meu bat-companheiro sim, e MUITO. O que fez com que ele passasse uma semana toda procurando. Depois de ver que todas as sessões, em todos cinemas da cidade (os que aparacem no google, claro), eram dubladas, foi a hora de começar a perguntar para os colegas na universidade. E com todos sendo acostumados com o fato, a batalha realmente parecia perdida. Os filmes aqui são dublados e pronto.

Mas...eis que em uma pesquisa mais profunda na internet (obrigada, google) uma alma iluminada mencionou um pequeno cinema que trazia algumas sessões legendadas, para atender o reduzido público de estrangeiros que mora por aqui. E assim, uma fagulha de esperança nasceu. Porque, eu podia até não estar muito abalada com o risco de não ver Batman X Superman, mas tem estreias esse ano pelas quais aguardo ansiosa. 

Então, fomos lá conferir o tal cinema. Que é super charmoso e aconchegante. Como quase 100% do público é de estrangeiros, o atendente fala inglês, o que já facilita muito.



Dentro da sala, notamos algumas diferenças, mas ainda não sabemos se é comum em todas as salas. A falta de inclinação nas poltronas (se alguém muito alto sentar na sua frente, pode trocar de lugar), traillers bem pequenos antes do filme, e muita, muita propaganda! Tem loooongos minutos de anúncios antes do início da sessão propriamente dita. 



A decoração, toda em veludo vermelho, a luz fraca e o prédio antigo trazem um clima todo especial para o lugar. Adoramos. E...tinha pipoca doce! Enfim, super valeu a pena, apesar de o ingresso não ser tão barato, cerca de 10 euros.



O filme é que ficou abaixo do esperado, 
Desolée Ben Afleck. 

(O link do cinema aqui: http://www.cinemalechambord.fr/)

quinta-feira, 24 de março de 2016

Efeitos colaterais


Aqui em Marseille, o clima é de alerta. Principalmente para os órgãos de Segurança Pública. Nas ruas, apesar de a população continuar a rotina normal, é comum encontrar militares em patrulha. Os grupos de 10 a 20 homens, caminham pelas principais vias da cidade, armados e conversando entre si por meio de sinais, fazendo posições táticas e paradas em locais estratégicos. Nos pontos de ônibus, metrôs e trens de superfície, gravações de áudio em francês e inglês repetem constantemente que todos podem ajudar no combate ao terrorismo e qualquer situação suspeita, deve ser denunciada. 


Só que nada disso é novidade por aqui.

Um mês e meio atrás, quando cheguei à Europa, já percebi a presença dos militares. Às vezes nas ruas, pontos turísticos e até em grandes igrejas. Assim como os alertas de segurança e os pedidos por denúncias da população.

Um dia antes dos ataques em Bruxelas, nessa semana, estive na maior estação de trem de Marseille, Saint Charles, que leva passageiros a outras regiões da França e a outros países da Europa. Militares armados estavam posicionados na entrada principal.

Um coisa que sempre digo, e disse nesse dia, sem nem imaginar o que aconteceria na Bélgica no dia 22 de março, foi: Não é a simples presença deles que me assusta, é a informação que os trouxe até aqui. O que será que eles sabem e a gente não? Esse trabalho é organizado a partir de informações, de investigação, de inteligência.  E um dia depois de dizer tudo isso, os ataques.

Com tudo que aconteceu, as questões de segurança também tomaram espaço nas discussões políticas na França. Depois dos atentados de Bruxelas, o primeiro ministro francês, Manuel Valls, voltou a reforçar a importância de intensificar o controle dos passageiros que utilizam os aeroportos do país, com a criação de um grande banco de dados. O projeto já foi discutido outras vezes, mas negado pela oposição sob o argumento de que poderia prejudicar a segurança dos dados pessoais dos passageiros. Com os ataques, a discussão foi retomada, e o projeto será votado novamente no mês de abril.

(Bandeiras a meio mastro nos principais prédios da cidade)

E depois de reviver a tragédia dos ataques de Paris no ano passado, de ver mais gente perdendo a vida em atentados, quem está aqui nesse momento só deseja que a situação melhore. Que seja possível prevenir novos ataques e garantir a segurança de milhões de inocentes em solo europeu. 


terça-feira, 15 de março de 2016

Le Train des Neiges


Frio, neve, comida boa e um dia delícia nos Alpes Franceses. O Train des Neiges, ou Trem das Neves, foi nosso primeiro passeio fora de Marseille desde que chegamos. Para começar de leve.

A gente adora frio, e por aqui não tem faltado. Mesmo sendo uma cidade litorânea, em uma das costas mais famosas do mundo, Marseille é o contrário das nossas expectativas antes da viagem (Sim, eu admito, achei que seria como o nordeste brasileiro por aqui, mas nada de verão o ano todo) e o vento que vem do mar, garante o friosinho nosso de cada dia. 

Mas...aqui não tem neve, e foi atrás dela que partimos.

O destino que escolhemos foi Orcières. A comunidade tem aproximadamente 98km² e 718 habitantes. 


O passeio é realizado em todos os fins de semana, e pode durar um dia, ou até mais, caso a pessoa queira se hospedar na região dos Alpes do Sul. Tem trens partindo todos os fins de semana de dezembro a março e o preço é super amigo, 20€ ida e volta para os adultos. O valor inclui a saída de Marseille até a estação, no pé das montanhas, e a ida até a estação, lá em cima.

A saída é cedinho, então tivemos que sair 5h30 da manhã de casa. Ficamos super estressados de sair de madrugada pela rua para ir até o metrô, fizemos um super planejamento do que levar, onde esconder dinheiro, celulares, como proteger a mochila, etc. Na hora de sair, Alex foi na frente na rua, e fez sinal para que eu seguisse quando viu que o caminho estava tranquilo, sim, cena de filme policial. Somos ridículos, a gente sabe. 

Depois de todo esse esforço, percebemos que Castellane (nosso bairro) também é tranqüila durante a madrugada.

No metrô, a cada parada em direção a estação Saint Charles, víamos mais gente que só podia estar indo pro mesmo lugar. Porque não tem outra explicação pra alguém entrar em um metrô, de madrugada, carregando esquis de quase 2 metros.

Chegando lá trocamos de trem, e começamos a viagem rumo aos Alpes. Viagem que não poderei detalhar, porque o trem era super lento (diferente do TGV, que estou louca para conhecer) e dormi quase o trajeto todo. 

Do trem pegamos o ônibus e começamos a subida. A paisagem é de tirar o fôlego. As montanhas têm entre 1000 e 3000 metros de altura, em média, cobertas de neve, e a paisagem branca e cinza vai tomando conta de tudo ao longo do caminho até abraçar o ônibus e todo mundo que segue ansioso pro alto, e mais e mais alto.


Tinha famílias inteiras no passeio, incluindo bebês e vovózinhas totalmente trabalhados nos abrigos de tactel com acabamento em pelúcia e finalizados nos equipamentos de segurança/esquis. 


Mas, já tínhamos desistido dessa aventura antes mesmo de chegar, pressão da família, preocupada que a gente se machucasse. O que eu certamente faria. Então ideia era curtir a paisagem, passear por lá, brincar na neve, e foi isso que fizemos.

O vilarejo é beeeem pequeno, mas tem restaurantes, mercados, farmácias, spa, lojinhas e mais lojinhas, enfim, tudo para receber bem os turistas. Também tem tudo para quem quer fazer algum esporte na neve, roupas, equipamentos, sapatos especiais, para alugar ou comprar. E, claro, a estação de esqui. 


E, como já era de se esperar, ninguém falava inglês. Para pedir almoço e sobremesa, a garçonete teve que esperar um pouquinho...pelo Google tradutor. Mas no fim, tudo certo.

                                 

Tudo certo mesmo, porque o dia estava lindo, com sol e teve até uma nevasca rápida que fez a alegria da criançada, e a nossa também!


O passeio todo foi uma delícia, caminhamos, tiramos mil fotos, teve bola de neve, boneco de neve e deu pra curtir toda a paz que essa paisagem perfeita garante.


O esqui?
Esse vai ficar para a próxima.











sábado, 12 de março de 2016

Musée de la Vieille Charité



Na sexta-feira (11/12) visitei o primeiro museu desde que cheguei à Maseille. A cidade tem vários e já estou ansiosa para conhecer outros.

O Museu de Caridade fica no segundo arrondissement (que é uma divisão semelhante à dos bairros) da cidade, no quartier do Panier. Para chegar lá, entramos em áreas não muito freqüentadas pelos turistas, um atalho que a guia conhecia. Nossa guia foi uma das professoras do curso de francês que organizou o tour.

No caminho ela foi nos contando que a região do Panier abrigava os imigrantes italianos que vinham para Marseille. Todos eles. Hoje ficaram apenas as pizzarias e as casas coloridas e muito próximas como lembrança, tanto porque o bairro recebe gente de todo lugar, quanto porque os italianos já dominaram a cidade inteira. E as redondezas do museu abrigam inúmeras galerias de arte e ateliês.

O Museu




A estrutura já foi muita coisa, mas quando foi concebida o objetivo não era nem de longe o de abrigar um museu. Uma decisão real em 1622 determinou a retirada de mendigos e desabrigados das ruas da cidade, e o local foi construído para abrigar essas pessoas. Guardas “caçavam” os mendigos pelas ruas, e eles eram levados para o prédio. Mas apenas os nascidos em Marseille. Os estrangeiros sem-teto foram expulsos da cidade nesse período.

Apesar da arbitrariedade, oficinas hospitalares, cursos para formação de camareiras e padeiros eram oferecidos.

A estrutura seguiu como abrigo. Em meados de 1890 os mendigos deram lugar a idosos, em 1905 virou abrigo do exército, em 1943 abrigou pessoas que perderam as casas após ataques alemães à região do Porto Velho e só na década de 50, esse prédio incrível virou patrimônio tombado.



Hoje o espaço usado como moradia deu lugar a belíssimos acervos, principalmente históricos.

A visita

O foco da nossa visita foi uma exposição sobre as mulheres na sociedade Greco-romana. Além das obras incríveis, tivemos a sorte de ter um colega grego no Grupo, o Dimitrius. Fã de história, ele deu uma aula para a turma ao longo da visita. Tudo em francês e no idioma universal da mímica. Em cada peça a força, a beleza e a importância social das mulheres fica evidente. Também dá para ver a presença dos deuses gregos nas gravuras dos objetos, e como eu adoro mitologia grega, curti muito.






A liberdade era uma temática bem presente nas peças.





Roupas e sapatos usados na época.


Esses eram frascos de perfume. Sim, de perfume. Eles tinham uma estrutura especial para que só algumas gotas do líquido saísses do frasco por vez. Incrível.


Olha que legal essa taça para tomar uns bons drinks! Vinho, no caso.

 

Depois da visita, a professora explicou que nosso ticket dava direito a visitar os acervos fixos do museu, mas o grupo também poderia dar uma volta na cafeteria (franceses, apaixonados por cafeterias). Só eu e uma aluna italiana quisemos continuar as visitas, então partimos, eu e Kiara para os acervos: O Egito, México, e outra área sobre povos das Américas, Oceania e África.


O meu favorito foi o acervo egípcio. Super completo, com objetos incríveis, mídias em todas as alas com informações sobre cada item e aquela sensação louca de reviver uma época ao se aproximar de coisas que faziam parte do dia-a-dia dessas pessoas.


Fiquei muito tempo encarando as placas gigantes de hieroglifos. Não sei se porque meu trabalho, como gosto de dizer, é registrar a história, mas fico fascinada com essas peças. Imaginando o que diriam esses registros, quem teria feito, por qual motivo...



Fiz muiiitas outras fotos, Das roupas, dos pequenos objetos, dos sarcófagos gigantes, das estátuas de adoração aos deuses, mas não vou me alongar ainda mais, então encerro com alguns dos itens mais curiosos do acervo. Imagens de adoração gatos e uma múmia-gato. 



terça-feira, 1 de março de 2016

Primeiro dia de Aula



Depois de 11 anos da minha formatura do colégio e uns 6 de terminar os estudos na faculdade de jornalismo, ontem foi dia de voltar para a sala de aula.

Minha primeira aula de francês foi super legal. O que é ótimo, visto que preciso demaaais delas no momento. A vida para alguém que só fala inglês e português em Marseille pode ser muito dura. Tá, não tão dura assim, mas ontem comprei nata quando na verdade queria comprar creme de leite. Outro dia queria pedir comida em uma telentrega, mas como pedir algo sem o auxílio da mímica?! Sem delivery por enquanto.

A urgência vai acabar sendo um incentivo legal nos estudos, embora eu tenha recordado com essas aulas como já gosto de estudar e outra, como adoooro gramática. 

Antes da viagem fiz umas aulas no Brasil, pouca coisa, só para quebrar o gelo. Chegando aqui, usei um dia todo na busca por uma escola legal, e depois de muito andar, encontramos a Destination Langues. A escola fica a uns 20 minutos de casa, também no bairro Castellane e tem um programa bom de curso intensivo. Fiz uma prova de nivelamento e consegui entrar na turma que já tinha começado em janeiro. \o/ (Obrigada Prof Didier! Nossas 20 aulas super corridas em floripa ajudaram muito!)

No atendimento já fiquei super tranquila por poder conversar com um professor que morou no Rio de Janeiro e falava português super bem. Com o começo das aulas, conheci 5 brasileiros que estudam na escola, e brasileiro é aquela coisa né? Deu oi já tá perguntando tudo, de onde vem, se a mãe tá boa, se abraça, dá risada, coisa mais linda e querida do mundo! Não peguei contato de ninguém ainda, mas já dá uma tranquilizada.

Falando nesse jeito que só a gente tem, pedimos a esse professor francês que nos atendeu para falar um pouco de Marseille e das pessoas daqui, costumes etc. Ele é natural do norte do país, e falou que sentiu muita dificuldade no começo porque a aqui as pessoas falam alto, puxam assunto sem conhecer, é tudo meio bagunçado, misturado...falei: bom, tô em casa então! haha No norte é todo mundo mais fechado, mais sério. Vou lembrar de não ser tão barulhenta quando for para lá.

Por hoje é isso, mas se alguém quiser mais informações sobre as aulas é só pedir que mando por e-mail.'

Beijo!