segunda-feira, 28 de novembro de 2016

10 diferenças culturais entre Brasil e França

Sei que sou completamente negligente com esse blog, mas...a pedido de dois amigos muito queridos, vou me esforçar para dar continuidade.

Vou falar um pouco sobre as diferenças principais que percebi entre a cultura francesa e a brasileira neste quase um ano em que estou vivendo aqui.

Deixando claro que melhor ou pior, vai da opinião de cada um. Mas o legal mesmo é sempre ser aberto a observar essas diferenças sem se magoar com nada, se não, a gente deixa de curtir uma outra cultura (ou de valorizar a nossa) ao invés de buscar trocas positivas.


1 - Consumo

Os hábitos de consumo franceses e brasileiros são muiiiiito diferentes! Na moda, por exemplo, enquanto os brasileiros buscam sempre o melhor preço, usam peças clássicas, mas também, lançamentos, estampas diferentes e em geral (ok, as mulheres) compram muitas peças; na França, é mais comum pagar caro (e muito, pq além dos valores serem altos é tudo, obviamente, em euros - socorro!) na roupas. Além disso, o número de peças é bem menor, elas são muito clássicas, muito retas e mais sóbrias. Ninguém vê problema em repetir as mesmas peças várias vezes na semana.
Resumindo, no Brasil um bom negócio é encontrar produtos com bom preço, na França é encontrar produtos duráveis, que poderão ser usados muitas e muitas vezes.
Esse consumo mais controlado acaba trazendo outras mudanças, horários menos estendidos em shoppings, mercados, farmácias e etc. Aliás, a maioria dos shoppings nem abre domingo (isso vem de outras influências culturais também, mas a falta de procura acaba mantendo assim).

2 - Alimentação

Sim, é uma forma de consumo também, mas são muitas as particularidades...então, mereceu um item.
Para começar, uma diferença que adorei quando cheguei aqui. Tudo é muito natural, e existe uma busca constante para que cada coisa tenha menos influências químicas/industriais desde o plantio e preparo até a conservação.
As frutas e verduras orgânicas, que são o diferente no Brasil, na França são maioria. É verdade que a gente precisa ter um cuidado muito maior com as coisas, que acabam tendo uma ‘validade’ menor. Em cerca de 2 dias a maioria das frutas estraga, é preciso comer assim que compra. Mas é muito bom comer com menos preocupações com o que se está ingerindo. Talvez pela ausência de tantos aditivos químicos (formol, gasolina e sei lá mais o que usam no Brasil) o leite francês, ah esse leite! Vou sentir tanta falta! É O MAIS saboroso que já tomei na vida.
Mas continuando, mesmo a comida congelada, os produtos enlatados, tudo tem percentagens menores de sódio e validades não tão extensas. Outra coisa, no setor de hortifruti do mercado a origem de cada produto fica bem discriminada. Morangos franceses, morangos espanhóis, laranja francesa, laranja mexicana, limão do Brasil, limão francês...e assim vai. E quem adivinha quais são os mais caros e quais os mais baratos? Acertou quem disse os franceses são os mais caros! E quem adivinha quais os mais comprados? Sim! Os franceses. É, contrariamente ao Brasil, os importados franceses são mais baratos, e as pessoas se preocupam mais em ajudar os agricultores locais comprando o produto deles do que em pagar menos.
Mesmo assim, a variedade de produtos é muito menor do que na feira brasileira, e é impossível não sentir saudade das frutas e legumes que só encontramos em terras tupiniquins.
Sobre as refeições...é verdade que a França tem a fama de ter uma das melhores culinárias do mundo, mas nem só de pratos gourmet com apresentação perfeita e ingredientes exóticos é feito o rango. Na verdade, durante a semana, por conta do trabalho muitos franceses nem têm tempo de almoçar e comem sanduíches e saladas prontas. A noite sim, eles jantam bem em casa ou vão a restaurantes. E no domingo é tradicional fazer refeições especiais com a família e amigos. E se você for convidado para um verdadeiro almoço francês, se prepare! Ele pode durar horas! A comida é servida em etapas (entrada, prato principal, queijos, sobremesa e por fim um café), e é o momento de conversar e relaxar.

3 - Ralação Cliente x Funcionário

Não se espante quando estiver passeando pela França. Ninguém vai te mimar num restaurante.O garçom está ali para fazer o trabalho dele. O número de trabalhadores nos estabelecimentos é bem menor se comparado aos bares e restaurantes no Brasil, então eles se organizam para realizar todas as atividades necessárias da melhor forma, e como são muitas, isso toma sim, mais tempo. Além disso, não existe a cultura da gorjeta na França (você pode deixar, sim, mas ela não é tão importante para complementar salários baixos como os dos países americanos, ou mesmo prevista no famoso 10%). Na frança as coisas têm o preço que têm, e os garçons recebem salários muito melhores que os dos garçons brasileiros. A soma de muito trabalho e pouca necessidade de bajular, faz com que haja essa diferença no atendimento. Então, quando chegar a um restaurante, aguarde na porta a pessoa até que alguém lhe atenda, e leve até uma mesa. Uma vez sentado, aguarde o garçom. Também não é necessário chamá-lo, como fazemos no Brasil. Inclusive é considerado até um pouco ofensivo fazer os sinais e sons aos quais os brasileiros estão acostumados. Os profissionais costumam estar sempre de olho nas etapas da refeição e, de tempos em tempos, passam pelas mesas questionando se há necessidade de mais alguma coisa. Ou seja, apenas aguarde.
**E atenção, na França garçom é serveur, garçon é a palavra francesa para menino, rapaz**
Da mesma forma que não existem as gorjetas, nas lojas não existe comissão. Então na França não é comum ter um vendedor seguindo seus passos dentro das lojas. O atendimento também é mais objetivo, e você precisará dizer o que quer ao invés de esperar que te ofereçam modelos, tamanhos ou qualquer coisa diferente do que solicitou.
Lembrando que nada disso significa que as pessoas não gostam de você ou de estrangeiros em geral, que odeiam seus trabalhos ou não sabem lidar com gente, é só mais uma diferença cultural entre tantas outras.

4 - O idioma

Eu já falei um pouco disso no post anterior, mas é sempre bom reforçar.
Enquanto no Brasil a gente não se importa que outra pessoa nos aborde falando em outro idioma, e vamos fazer de tudo para entender, mesmo que isso exija o uso de mímica, desenhos ou qualquer coisa do tipo...na França não é assim.
Tentar se comunicar na língua local, com frases básicas que qualquer guia de línguas pode te ensinar é bem importante para os franceses. Mesmo que seja para dizer que você não fala francês e gostaria se saber se alguém no local fala inglês ou pode te ajudar lendo alguma tradução no celular, por exemplo.
Ninguém precisa aprender todo um idioma para fazer um passeio de alguns dias em outro país, mas as palavrinhas mágicas bom dia, boa tarde, boa noite, por favor e obrigado abrem portas. Mesmo se você falar com alguma dificuldade, a tentativa é sempre vista com bons olhos pelos franceses.
E para quem está estudando o idioma e quer se aventurar em uma viagem para testar os conhecimentos, vale lembrar que todos os biquinhos e o ‘R’ esquisito são sim muito importantes! As palavras geralmente não são entendidas facilmente pelos franceses sem esses detalhes, e podem até significar outra coisa totalmente diferente. Entretanto, eles são muito queridos com quem está aprendendo (menos quando estão com muita pressa), e vão te corrigir e ajudar nas pronúncias e até elogiar se você conseguir formular algumas frases. Sim, eles sabem que a língua deles é difícil haha.
Para não esquecer, existem sim muitas palavras que são bem parecidas em português e francês, afinal ambas têm raízes no latim, mas vá devagar, existem aquelas que acabaram ganhando significados diferentes de acordo com as influências que existem em cada lugar. E é sempre bom ter cuidado =)

5 - Animais (ou catioros e gatíneos)

Ah essa diferença! Há quem não goste, mas eu particularmente adoro! Franceses são completamente apaixonados por seus bichinhos e se não estão no trabalho, certamente estarão junto deles. Em casa, né?! NÃO. Aqui é normal levar os animais nos restaurantes, mercados, lojas e bares, ficar hospedado no hotel e andar com eles no metrô, ônibus, etc. Se você não curte, sua opção é sair (beijo no ombro). Claro que existem lugares que não aceitam, mas são poucos, e também tem alguns parques onde existem áreas específicas para passear com os bichinhos. Por conta de todo esse amor, diferente do Brasil, simplesmente não existem animais de rua na França. Pelo menos não em NENHUMA das cidades que visitei. Perguntei para uma francesa uma vez pq não existiam animais abandonados, e ela disse “Pq franceses são loucos por bichinhos! Se por acaso algum estiver na rua, será com certeza adotado por alguém em menos de 5 minutos!”, fofo né?!

6 - Me vê o troco em bala? Só que não.

Na frança, moedas valem dinheiro! Claro que pra gente que precisa multiplicar tudo por 4 na conversão vale sempre, mas mesmo pros franceses, o troco em bala não existe. Ah, mas foi um centavo! Você receberá sua moeda de 1 centavo.

7 – O banheiro

Esta é uma área onde existem muitas diferenças!
O banheiro tipicamente francês não é um cômodo, como no Brasil, mas dois!
São dois ambientes, um que tem só a privada, e outro com o chuveiro e a pia. Ainda não consegui nenhuma resposta satisfatória sobre o porquê, mas é assim. Então, depois de usar o banheiro, a gente precisa ir para outro lugar para lavar as mãos.
No chuveiro, mais diferenças. O mais comum é tomar-se banho com a duchinha. Então não estranhe ao não encontrar um belo chuveiro te esperando. Mas não se preocupe! Há um suporte na parede para a duchinha, o que permite que tomar um banho bem parecido com o brasileiro.
**Aproveitando também para derrubar um mito: os franceses tomam banho todos os dias sim, pelo menos é o que eles dizem (haha, brincadeira). A diferença é que por conta da rejeição a produtos químicos, que falei lá no item 2, uma grande parte da população não usa desodorante e odeia a ideia de ter esse produto em contato com a pele todos os dias.**
Agora maior diferença nesse setor pra mim é com certeza o destino do papel higiênico usado. A lixeira nos banheiros é só para embalagens, absorventes e coisas que não podem ser levadas pela água sem risco de entupimento. Nunca para o papel usado, este vai para a privada! Estranho né?! Mas é assim. A gente leva um tempo para se acostumar, eu inclusive precisei pesquisar sobre o tratamento que esse rejeito tinha e só fiquei tranquila depois de descobrir que aqui existe uma destinação específica pra isso quando se fala em água; e que seria pior colocá-lo na lixeira, onde não seria tratado.

8 - Cumprimentos

Essa é motivo de piadas sempre, então muita gente já conhece. Na França o cumprimento padrão é de dois beijinhos no rosto, mesmo entre os homens (mas só quando eles já se conhecem). No começo a gente estranha, não deveria, mas estranha haha e depois acostuma. E todo mundo cumprimenta, mesmo se 30 pessoas estiverem no lugar, o que é um pouco cansativo, mas é o costume!

9 - Lazer

Feriado, final de semana, aquele momento de se desligar do mundo e relaxar. Enquanto no Brasil a gente aproveita pra ficar em casa, passear no shopping ou visitar a família e amigos...na França é hora de encontrar a natureza. O número enorme de jardins e parques (maravilhosos por sinal) nas cidades francesas tem motivo, é o hobbie preferido deles. Levar as crianças para brincar, fazer um passeio romântico, se exercitar, tocar música e fazer um bom piquenique! Que em francês é até verbo: je pique-nique, tu pique-niques, il pique-nique, nous pique-niquons, vous pique-niquez e ils pique-niquent!

10 - A relação com o tempo

Acho que de todas as diferenças, essa é pra mim um aprendizado, algo que quero levar para a minha vida.
A gente consegue perceber a forma francesa de empregar o tempo em muitas das coisas que eu citei nessa lista e em outras tantas no cotidiano.
Tudo é feito mais devagar, aproveitando da melhor forma o que cada momento pode trazer. Um jantar com os amigos, um passeio no
pôr-do-sol, o tempo com a família. A hora de sair do trabalho e se desligar dele. Não viver de meias experiências, não fazer as coisas correndo.
Para mim é um contraste enorme, não só pq no Brasil a gente faz as coisas em geral de forma mais rápida, e sempre muita coisa ao mesmo tempo, mas pq eu sou o tipo de pessoa que almoça de pé e quando dorme sonha que está trabalhando.
Acho que esse é mais um dos motivos de essa experiência ser tão especial pra mim. Muito mais do que aprender outro idioma, conhecer gente nova...mas por me desacelerar e me dar a chance de observar o mundo de um novo ponto de vista, de ter todos os dias aulas práticas de como mudar aquilo que eu menos gostava na forma como eu levava a minha vida.

Um comentário:

  1. Eu adoro ler relatos de experiências de brasileiros no exterior, dos costumes e diferenças/semelhanças com o Brasil. Manu quero ver muito sobre a comida e a moda e fotos desses lugares que tu passa! Beijos Janaina Mengue

    ResponderExcluir